domingo, 26 de fevereiro de 2006

O Sopro do Desejo... A Dormência do Espírito.

"Mas às vezes farto-me desta eterna existência de espírito. Nessas alturas, gostava de não pairar eternamente. Gostaria de sentir um peso que anulasse a infinidade e me segurasse à Terra. A cada passo ou a cada golpe de vento gostaria de poder dizer:"Agora, agora, agora" e não "desde sempre" ou "Para todo o sempre". Não pude deixar de pensar, que muitas vezes balbuciamos arrogantemente "não agora" porque "para todo o sempre." E pairamos. Só que nos faltam as asas e a eternidade. Imagem e texto de "As Asas do Desejo" de Wim Wenders

sábado, 25 de fevereiro de 2006

A semana passada aconteceu...

Sobre o que assenta sobre a mesa da nossa actualidade... Mais uma vez, parece-me pertinente ler a Fernanda Câncio.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Baudelaire...

... no Rosa do Mundo. A partir daí, foi uma saga para conseguir o título de onde tinha sido extraído o texto. Pois bem, por causa do sopro na cabeleira da outra, lembrei-me de o repescar. E oferecê-lo aqui, porque me apetece respirar o odor do texto...
"Deixa-me respirar por muito, muito tempo, o odor dos teus cabelos, mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem sequioso na água de uma nascente, e agitá-los com a mão como um lenço perfumado, para sacudir as recordações no ar.
Se tu pudesses saber tudo o que vejo! Tudo o que sinto! Tudo o que ouço nos teus cabelos! minha alma viaja sobre o perfume como a alma dos outros homens viaja sobre a música.
Os teus cabelos contêm um sonho inteiro, cheio de velas e de mastros; contêm grandes mares cujas monções me levam para climas adoráveis, onde o espaço é mais azul e mais profundo, onde a atmosfera tem o perfume dos frutos, das folhas e de pele humana.
No oceano da tua cabeleira, entrevejo um porto a formigar de canções dolentes, de homens vigorosos de todas as nações e navios de todas as formas recortando as arquitecturas finas e complicadas sob um céu imenso onde se pavoneia um calor eterno.
Nas carícias da tua cabeleira, encontro os langores das horas passadas sobre um divã no camarote dum belo navio, embaladas pelo arfar imperceptível do porto, por entre os vasos de flores e as bilhas que refrescam a água.
No lume ardente da tua cabeleira, respiro o odor do tabaco misturado com ópio e açúcar; na noite da tua cabeleira, vejo resplandecer o infinito do azul tropical; nas praias acetinadas da tua cabeleira, embebedo-me com os odores combinados de alcatrão, de musgo e de óleo de coco.
Deixa-me morder longamente as tuas tranças pesadas e negras.
Quando mordisco os teus cabelos elásticos e rebeldes, parece-me que devoro recordações."
(in O Spleen de Paris)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

Da impossibilidade...

ou 1ª Epístola a Salomé: Começarei por roubar as palavras de alguém que prezo muito.
" A tradução, deseje-se ela "relevante", bem apropriada ou justa, é sempre uma traição uma perversão uma paixão. Uma experiência impossível.
(...), nunca uma língua se deixa transportar de todo, isto é, sem resto ou sem perda, sem desastre de percurso, para uma outra." (Fernanda Bernardo)
Pedes uma tradução. Mas, diz-me: como trair a cadência da língua com o nosso (in)poetar tosco? Como reduzir a poesia a texto explicativo? Como roubar o ritmo à palavra tornando-a tragicamente outra? É que as palavras que discorro na mente, percebo-as em mim, na inexplicabilidade do poema na língua que pedes. Como traduzir (aqui, agora, na rapidez do clique) música? 
LES RETROUVAILLES... LATIN e NEFERTITI dedicam à AMIGA W.O.BIRD

Voilà, il n'y aura plus d´hiver/ C'est nouveau, je crois cést tombé hier/ Dans es villes/ Des ventes sórganisent /Des montagnes de pllus / Dans les villes / Des vagabonds se pressent/ Et investissent, et investissent / dans la laine dévaluée / Alors voilá, il n'y aura plus d'hiver/ Et pourquoi? (...)
"Plus d'Hiver" in Les Retrouvailles, Yann Tiersen





terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Duas idiotas e um chico esperto.




Um primeiro momento para que os frequentadores sensíveis a estas curvaturas recuperarem o fôlego. Inspirem e expirem; lembrem-se que os movimentos se sucedem . Se necessário, fechem os olhos e tomem o pulso. Verifiquem se o ritmo cardíaco voltou ao normal.

Ainda não? Esperem mais uns minutos de olhos fechados.

Já está?

Então, vamos ao que interessa. Por que raio o fulano é o único a estar vestido? Como é que estas tótós se prestaram a isto (e eu até tinha a Scarlett Johansson em boa conta - magnífica no Rapariga com Brinco de Pérola), com o fulano a enfiar as narinas na cabeleira de uma delas, do alto do seu fato de bom corte? E não me venham com o piscar de olho habitual, de que o corpo feminino é muito mais poético e harmonioso que o masculino. Tretas para que idiotas como estas duas se prestem a isto!

(A imagem foi roubada do Sociedade Anónima)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

O corridinho da tragédia...

Confesso uma autêntica fixação por dois compositores: Wagner e Grieg. Mais precisamente sobre o Prelúdio de Tristão e Isolda de Wagner e sobre Ase's Death e Solvejg's Song, de Grieg. São composições que roçam o sagrado para mim - a existir um(a) Deus(a), certamente soprava ao ouvido destas criaturas quando marcaram a tinta a pauta de música... Fiquei delirante e ao mesmo tempo apreensiva quando na noite de sábado, a consultar o programa do concerto que estava prestes a começar, vi Ase's Death encaixada entre Vivaldi e Bach. Não gosto particularmente de Vivaldi e quanto a Bach, tem dias. Mas aquela pérola no programa! E lá esperei, por entre os sons dos violinos e do cravo (discretíssimo) que chegasse o momento de Grieg. E ele veio - e foi-se rapidamente. Na noite de sábado, a morte de Ase's - um andante doloroso - abandonou o doloroso e transformou-se somente num andante. Os violinos pareciam querer fugir o mais rapidamente de palco, as pausas deixaram de existir. E a mim... a mim só apeteceu tapar os ouvidos (como uma criança o faria) e gritar "Não quero ouvir mais nada." Restou-me voltar a casa e repor a ordem... Grieg voltou ao andamento certo.

Roubada a Rodin...


Ao Everything e ao RPS:
A Catedral. Em agradecimento.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

Acefalias


Acefalias…

A Guerra das Caricaturas é um tema bastante enervante! Demasiada susceptibilidade, falta de humor e muita acefalia à mistura.
Sempre adorei cartoons! Tenho por hábito ver primeiro os cartoons e só depois é que passo à leitura das realidades mais nuas e cruas.
A intolerância é uma patologia que, em certos momentos, massifica-se! Se esse sentimento (intolerância) perdurar por muito tempo e o recurso ao pensamento cair em desuso, a evolução da fisionomia do Homem tende para a acefalia (a teoria evolucionista ou transformista estabelecida pelo biólogo Darwin explica esse fenómeno!).
Mas, na minha modesta e pacífica existência, vão surgindo outros pormenores que, para mim, ocupam um lugar de maior relevância, mesmo tendo consciência que se trata de comodidades pessoais… e o dia catorze foi um deles!
Não tenho nada contra o dia que se festeja o amor, sentimento nobre e digno de festins e afins! Contudo, nos meios muito pequenos, torna-se, irritantemente, caricato (sem querer ofender os mais devotos fiéis do deus Eros, não quero complicações para os meus lados!).
O dia até foi bastante engraçado! Telefonei ao meu pseudo namorado, propus uma jurar de fidelidade e, como resposta, ouvi uma gargalhada… previsível.
Houve uma vitrina que, estrategicamente, apelou, a meu ver e segundo a minha interpretação/sensibilidade, ao amor e humor, porque entre os muitos corações, setas, cúpidos, e etc., emergia a palavra CORACÃO. A ausência de cedilha foi, propositadamente, para dar um toque mais literário, e só os espíritos mais perspicazes e cultos é que conseguiram aperceber-se da ambivalência da dita palavra (cora-cão). Confesso que até fiquei nostálgica… lembrei-me do Dartacão (desenho animado da minha infância).
À noite, por necessidade (carregamento de telemóvel), tive que sair sozinha e a princípio a situação não me desagradou, senti até um desejo de vadiar … inspirada, quiçá, pela releitura da Vida Conversável do memorial Filósofo Agostinho da Silva. Porém, correu mal…; apressei o passo para não esbarrar contra os pares românticos; tive que explicar a algumas pessoas o que andava a fazer àquelas horas sozinha e, por fim, tentei ser assertiva com uma certa personagem que perguntou, sem conhecimento de causa, pelo meu namorado. Respondi-lhe que esse se encontrava longe, direccionando a minha mão para o mar ou horizonte (à escolha) e, de seguida, afundei-a ou guardei-a (também à escolha) no bolso do meu casaco (lindo, uma metáfora!). Creio que o incauto receptor não percebeu a mensagem na íntegra, ainda bem!


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

O dia Seguinte

Porque ando um pouco farta de cor-de-rosa... E do 14 de Fevereiro (as alunas suspiraram pela chegada e agora ainda suspiram por ele à saída), nada melhor para desanuviar o ambiente meloso do que um link para um post genial. Teve quase o mesmo efeito que as Suicide Girls (para o) do Bartebly. Bem, não foi o mesmo efeito. Esse, só a contemplar o Eric Bana ou o Johnny Depp!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

A ler

A ler, o texto que aqui se linka. E já agora, o respectivo blog é de manter debaixo de olho. Consta da lista (às vezes ao lado, às vezes em baixo, sem que para tal eu tenha qualquer responsabilidade)

Chutos e Pontapés

A proposta do nosso ilustre Ministro dos Negócios Estrangeiros pode parecer pródiga mas, a longo prazo, pode revelar-se profundamente catártica para os mundos em confronto - Ocidental (que arroga superioridade moral) e Oriental (que por seu lado, arroga superioridade religiosa). Na verdade, o nosso Ministro (tão incompreendido) revela uma visão astuta da problemática. Senão, vejamos:
Os últimos acontecimentos provocaram a exigência de pedidos de desculpa de uns (face aos cartoons) e a indignação de outros (face à violência manifestada nas ruas de alguns países islâmicos). De um lado gritam "A minha religião é aquela maior do que a qual nada pode ser desenhado", ao que a equipa adversária responde "A minha superioridade moral é aquela maior do que a qual nada pode ser atirado".
Para muitos, estamos perante um impasse. Como resolver o diferendo? Através do futebol, pois então (responde o nosso MNE). Mas porquê?
Na verdade, suspeito que Freitas do Amaral, perante a superioridade berrada (de uns e de outros) teve uma sensação de dejá vu e, procurando no fundo da memória, lembrou-se que isto já parecia uma rixa entre adeptos de futebol. Com a diferença que nessa altura ninguém se indigna: andar aos berros ou atirar porcarias a edifícios e pessoas é uma atitude perfeitamente normal desde que legitimada por um cachecol ao pescoço (e em que o jogo é meramente um pretexto para dar largas à testosterona aprisionada por todas as superioridades que arrogamos no dia a dia).
Agora digam lá que o homem é parvo...

domingo, 12 de fevereiro de 2006

Gizar tudo a branco ou negro...


Asseguro que tentei escapar-me a postar sobre o assunto que invade a (des)ordem das coisas, desviar-me das palavras que circulam à velocidade da escrita e da leitura. Mas neste momento, pousando as Identidades Assassinas de Amin Maalouf e a propósito de um post do paladino da memória (e a propósito de muito que tenho lido por vários blogs e respectivos comentários), deixo-vos as palavras deste Libanês em terra de ninguém, no limite da pertença, a travessia no fio da navalha - onde termina e começa o oriente ou onde começa e termina o ocidente:

"Por facilidade englobamos as pessoas mais diversas no mesmo vocábulo; por facilidade também, atribuímos-lhes crimes, actos colectivos, opiniões colectivas - "os sérvios massacraram...", "os ingleses destruíram...", "os judeus confiscaram...", "os negros incendiaram...", "os árabes recusaram...". Emitimos friamente juízos sobre esta ou aquela população que consideramos "trabalhadora", "hábil", ou "preguiçosa", "susceptível", "manhosa", "orgulhosa", ou "obstinada", juízos que terminam muitas vezes em sangue."

E por isto dizia que toda esta questão dos cartoons, como tem sido tratada a partir de uma dualidade asséptica, "eles contra nós" ou "mundo ocidental versus mundo islâmico", causa-me algum tremor. É que partir de um horizonte tão redutor, implica deixar bem claro o que entendemos por cada um destes (solitários) mundos, esquecendo desde logo as incontáveis nuances, assimetrias, duplicidades, desvios, mudanças de cor - que são decisivas e que estão inscritas a fogo na carne de cada um de nós.
Como encegueirar e recusar tudo isto? E porque tudo isto já foi dito de forma sublime, continuo (e termino) com Maalouf:

(...) parece-me importante que cada um de nós tome consciência do facto de que as nossas palavras não são inocentes e de que as mesmas contribuem para perpetuar preconceitos que demonstraram ser, ao longo da História, perversos e assassinos.
Porque é o nosso olhar que aprisiona muitas vezes os outros nas suas pertenças mais estreitas e é também o nosso olhar que tem o poder de os libertar."


(Fotografia de Man Ray)

Mulheres de Rosa e Homens em Fato de Treino.


O resultado da minha ida ao cinema ontem foi decepcionante. Sei que já estreou há muito, mas fui vê-lo a uma sala manhosa que, graças à deusa, ainda vai passando alguns filmes que passam ao lado da industriazinha pipoqueira. E saí de lá apenas grata quanto à banda sonora e a algumas passagens dignas de registo.
Teoricamente, lendo a sinopse, estava perante um filme interessante. Um D. Juan em decadência depara-se com uma carta de uma antiga amante (e não de uma antiga amada - sabemos, desde logo, que é incapaz de amar), que o informa que está prestes a receber a visita do filho acidental de cuja existência não tinha conhecimento.
Don é o homem que conhecemos solitariamente no sofá, em frente a uma televisão que passa um clássico - D. Juan - o estereótipo do seu modo de vida. Curiosa a relação que se estabece entre o filme que passa e o rumo que tomará a vida do homem no sofá: na cena específica que está a ver, o funeral de D. Juan, as mulheres de negro ainda disputam a atenção do conquistador. Don, pelo contrário, que parte em busca das mulheres que povoaram a sua vida(com o pretexto de investigar quem lhe enviou a misteriosa carta), apercebe-se que o impacto que teve/tem nas vidas das mulheres que poderiam vestir negro por ele é sumariamente irrisório. E por isso, é sintomático que a última mulher que ele visite esteja morta. A cena está invertida, já que chora a morte de uma das suas conquistas, quando já ninguém parece lembrar-se (ou disputar a atenção) de Don (Juan). Lamenta a morte de uma das mulheres da sua vida e simultaneamente, suspeitamos, lamenta também a perda da sua tal como a conheceu.
O que realmente decepcionou no filme foi exactamente a personagem de Don, a cargo de Bill Murray. A mesma inexpressividade inicial da personagem de Lost In Translation é sublimada neste Broken Flowers, muito provavelmente porque a construção da personagem assim o conduziu; à força de se criar um conquistador em decadência (com tudo o que isso comporta de ridículo) , caiu-se no excesso de criá-lo apático, autómato de ombros caídos, de fato de treino às riscas e sapatos clássicos nos pés (e que conquistador sai de casa nestes preparos, ainda que esteja já no ocaso da carreira?). Ninguém acredita que aqueles são os despojos de um conquistador nato.
Na verdade, apenas ficou a impressão de que as mulheres adoram obssessivamente o rosa e os homens os fatos de treino com duas riscas (e já sem brilhantina).
Hoje, revi Lost In Translation e voltei a acreditar em Bill Murray.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

Mais uma tola e muitas manias...

Recebi este convite da Candy e, pelo sim pelo não, não ouso quebrar a coisa:

(DES) Regulamento: "Cada bloguista participante tem de elencar cinco manias suas, hábitos muito pessoais que os diferenciem do comum dos mortais*1 . E além de dar ao público conhecimento dessas particularidades, tem de escolher cinco outros bloguistas para entrarem, igualmente, no jogo, não se esquecendo de deixar nos respectivos blogues aviso do "recrutamento". (...)*2 cada participante deve reproduzir este "regulamento" no seu blogue."

*1 - Gostaria de neste ponto frisar que não pretendo, de forma alguma, destacar-me dos restantes mortais. De qualquer modo, ficaria eternamente grata se, ao elencar algumas das minhas manias, se atrasasse o processo de envelhecimento)
*2 - Pode ser considerada uma mania introdutória: Não gosto do termo "Ademais".

1ª: Não quebrar esta coisa e decidir expor alguns dos meus hábitos e fixações;

2ª: Percorrer várias vezes (sempre que acedo à net) a minha lista de blogs, na esperança de ter novidades;

3ª: Sublinhar e anotar os meus livros com uma caneta de determinada cor, comprada especialmente para o efeito (já se tornou quase um ritual, já que corro as papelarias para obter a caneta certa);

4ª: Não consigo ficar calada e respondo invariavelmente a provocações, ainda que saiba que nestas alturas o silêncio tem valor incalculável;

5ª: Como já me resta apenas esta, partilho com a Candy algumas manias dela, a saber: 1ª, 2ª (neste caso específico, estendo a paranóia à porta de casa, ao pc desligado, às luzes do andar de cima, enfim), 3ª (mas não com um espaço tão grande - limito-me a 10 minutos) e a 4ª.

Bem, afinal não foi tão difícil nem tão mau. Piada tinha que abríssemos os tentáculos à brincadeira e tivessem que ser os amigos a apontar as nossas manias...

De qualquer modo, passo o teclado às(ao) seguintes contempladas(o):
Nefertiti (ouro cá da casa);
Dirim;
Salomé;
Exmªs Gajas no Corte e Costura;
José Convicto;
Isobel.

Cumprido o dever, abstenho-me de mais toques de tecla.

Tempos


Tempos…

A Astronomia é uma ciência que a minha querida amiga R se dedica afincadamente nos intervalos dos seus tempos mais abrangentes, ou seja, do tempo do emprego, do tempo dos amigos e doutros tempos intrinsecamente relacionados com a condição humana. Nas suas digressões astronómicas, a minha amiga acentua ainda mais o seu ar celestial e brilhante! Deduzo que isso deve-se ao facto de sua mente estar cada vez mais esclarecida e o espírito mais alimentado.
De tempos em tempos, vejo a minha amiga a fazer muitos cálculos, porque é preciso arrumar ou organizar ou ordenar… o conhecimento. Quando peço algum esclarecimento acerca da cosmografia, prontifica-se e nunca matematicamente falando ou esclarecendo, mas sim utilizando sempre a minha pátria (relembro: “a língua portuguesa é a minha pátria!” e também confesso que é nesses tempos que sou extremamente patriótica!).
Apesar de saber que nunca chegarei aos calcanhares da R no respeita aos conhecimentos do cosmos, porque o caos, proporcionalmente, domina as minhas ideias e emoções (tempos de crise!), tenho muita curiosidade em alguns “pequenos grandes pormenores” ( Ex.mo F, sei que esta frase tem direitos de autor! processe-me!), por exemplo: as constelações, planetas, estrelas, os buracos negros, a medição do tempo…
Chegar a tempo e a horas aos meus compromissos é um grande pormenor! Gosto chegar sempre a horas, sou muito pontual! E se tivesse que olhar o céu para observar os astros e outros fenómenos naturais para determinar o tempo, como noutros tempos, penso que seria complicado e até mais compreensivo alguns atrasos! Mas basta olhar o relógio e ter consideração por quem ou o por que nos espera!
A medição do tempo através de processo práticos foi uma conquista, o Homem utilizou diversos sistemas: o gnómon, o relógio de sol, a clepsidra, o relógio de fogo, a ampulheta, e, estranhamente, relógios humanos. A necessidade de saber a quantas se anda é uma preocupação constante em todas as sociedades humanas.
Em algumas incursões que fiz à História dos primeiros relógios, deparei-me com relatos lendários um tanto ao quanto insólitos! Por exemplo, conta-se que uma rainha chamada Semíramis que governou na Babilónia há uns 2.000 a.C, usava um escravo para medir o tempo, e este tinha a missão de contar lentilhas sem parar. Quando chegava à milésima dava um grito, que assinalava o fim de um período de tempo, e recomeçava outra vez… Que angustiantes tempos esses! Enfim, outros tempos!

Mas o tempo passa e a paciência também…
Até sempre se o tempo quiser!

(* Pintura de Salvador Dali)

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2006

Primeira Epístola à Nefertiti:


Sim, esta singela epístola é para ti. Na verdade, venho imprimir algum fôlego à nossa guerra, povoada de inúmeras e acaloradas batalhas. É verdade. Volto à velhinha disputa entre Gregos e Romanos (não, não são Gregos e Troianos, e por cá ainda não houve nenhum Cavalo de Tróia...). Mas hoje venho munida de artilharia pesada.
No Público de hoje...

"A verdade é que tudo vem da cultura clássica. É preciso não esquecer que a ciência actual assenta na ciência grega, principalmente, e também a própria teoria política parte da antiguidade grega e depois tem acrescentos - da antiguidade romana." (O negrito é meu, como é óbvio)

Eu deixo-te respirar. Até deixo que vás até à cozinha (ou ao bar) tomar um copo de água para te recompores. Consigo até acompanhar o raciocínio; Não. Como vês, está entre aspas, e já referi que saiu no Público de 6-2-06. Não, não foi um qualquer cronista... Foi alguém que tens em grande estima.
Na verdade, algum dia isto teria que ter um fim. Esta teima absurda, que sei que manténs única e exclusivamente por birra porque pressinto que há muito me dás razão (mentalmente é certo, que não és gaija para admitir estas coisas).
Mas aqui enterro o machado, certa de que estás ferida de morte...
É que, minha querida amiga, o excerto foi roubado a uma entrevista a Maria HELENA da Rocha Pereira. E não vale ripostares que é apenas simpatia dela, por causa do nome. Sabes bem que a Professora é isenta.
Enfim, estou disposta a enterrar o machado. Também, nunca percebi a fixação quanto aos Romanos. Afinal de contas, até és egípcia...

(Relevo de uma ânfora fúnebre de terracota de Míconos.)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2006

Do Mundo em Nós - A não consciência de si

Quis que desse nome a este espaço. Mas durante dois meses, foi só isso - a lombada de onde bebi um título, porque não queria sorver mais nada. Não me apetecia, por enquanto, ser feminina. Não me apetecia pensar novamente com que fios tecemos a Diferença de (e em) Nós . Não me apetecia pensar. Ponto.
Esta semana, já não sei bem porquê, alcancei-o, de mão aberta, resgatando-o à obscuridade a que o tinha votado.
" (...), depois de lidos um capítulo ou dois, uma sombra parecia pairar sobre a página. tinha a forma de uma barra escura, uma sombra com a forma de um pronome pessoal. Começava-se uma procura aqui e ali, numa tentativa de saber o que haveria para lá desta paisagem. Não estou certa se seria uma árvore ou uma mulher que caminhava. Havia sempre o tal condicionamento do pronome pessoal. Iniciava-se o cansaço do «eu». Contudo, este «eu» era dos mais respeitáveis, honesto e lógico; duro como uma noz e polido por séculos a fio de bons ensinamentos e boa comida. Respeito e admiro aquele «eu» do fundo do coração. Mas - neste momento, voltei uma ou duas páginas à procura de algo - o pior é que à sombra deste pronome pessoal tudo parece imerso em nevoeiro. «Aquilo é uma árvore? Não. É uma mulher. Mas... não tem um único osso no corpo, pensei (...)."
Um Quarto Que Seja Seu, Virginia Woolf

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

Ai socorro, que a ideia de "eles" casarem contribui para a minha infelicidade!


E sobre isto, não escrevo nada, porque não quero ter uma subida de tensão. Até porque nada melhor do que ler (a fabulosa) Fernanda Câncio.
(Fotografia de Christine Mathieu)

Recomeços...


Recomeça...
Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances
Não descanses.


De nenhum fruto queiras só metade.
Miguel Torga
(Fotografia de Elsinare Galiza, 2005)

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Toca, toca.


-Estou?
- Quem fala?
- Com quem deseja falar?
- Mas quem fala?
- Se me disser com quem quer falar, talvez possa ajudá-lo...
- Mas eu não sei com quem quero falar.
- Então estamos com um problema...
- Mas diga-me quem fala... de que sítio...
- Ouça, se não sabe com quem quer falar, então certamente não será com alguém daqui.